Enunciar números, seja qual for a razão, tem sempre um significado especial, seja para anunciar bons resultados, seja para acentuar dificuldades e constrangimentos.
Quando se associa a isso o anúncio de cortes, números mais baixos que, inevitavelmente, transportam más notícias a situação torna-se mais complexa. Ainda por cima quando não se conhecem as análises e as contas que estarão na origem dos cortes previstos.
No Orçamento de Estado para 2026, aponta-se um corte de 12 milhões de euros no transporte de doentes, de 34,8 milhões em 2027 e 48 milhões em 2028. Nenhum desses cortes foram explicados como serão feitos e em que termos, o que nos permite concluir serem meras projeções de quem quer poupar sem saber bem o que isso irá representar.
Os cortes irão, para já, privar cada vez mais doentes do transporte, sem destrinçar quais, onde e para quê.
Há muito que a Liga dos Bombeiros Portugueses alertou sucessivamente quem de direito para a situação. Alerta, desde logo, para a evidente má gestão do serviço, não forçosamente para apontar cortes cegos, como parece agora ser, mas acima de tudo começar por rentabilizar melhor o que já é gasto e como é gasto. Há evidentes desperdícios, a título de exemplo, com operadores a cobrar 100 euros quando a outros só se garante dez pelo mesmo serviço.
Cada ULS terá muitas histórias que contar, umas de incapacidade, uns com SGTD outros sem isso, dívidas a acumular, outras que nem “existem” apenas por não estarem contabilizadas.
Sem análise profunda do problema não terá lógica preconizar cortes.
