“Deixem-nos trabalhar”

A expressão completa é,” não sejam castradores, deixem-nos trabalhar”, e foi proferida recentemente por um comandante de bombeiros com desassombro e sinceridade dirigindo-se à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) a propósito das Equipas de Intervenção Permanente (EIP).

Entre o trabalho de gabinete e a vida de um corpo de bombeiros, dista porventura muita coisa que importa adequar à realidade. Quando isso não acontece, e infelizmente muitas vezes, assistimos a gritos de alma como este e outras reações que denunciam um mau estar latente que paira tantas vezes entre a burocracia e o dia a dia, as disponibilidades e constrangimentos de um corpo de bombeiros associativo.

Nas últimas semanas, ao longo do país, repetiram-se as assembleias gerais das nossas associações para prestação de contas de 2022. Reuniões habitualmente sem história, a não ser os relatos repetidos de dificuldades extremas, para manter as portas abertas e garantir os recursos para que o socorro continue a ser prestado. São relatos muitas vezes dramáticos de dirigentes dedicados e sacrificados que, ano após ano, por vezes também sem sucessores disponíveis à vista, se vão mantendo com resiliência inimaginável.

A par disso, assiste-se ao debate estafado em torno do número de associações de bombeiros existentes, da sua indispensabilidade na opinião de muitos, da sua dispensabilidade para poucos.

Entre os que se interrogam sobre as associações está, por vezes, o próprio Estado, apesar de recorrer a elas para cumprir funções que lhe dizem respeito. Um Estado muitas vezes relapso no cumprimento das suas obrigações e que, ainda por cima, tem o topete de questionar as associações e os seus dirigentes sobre a gestão praticada e as suas contas.

Importa questionar se é o mesmo Estado que, por um lado, pressiona as associações de bombeiros e paga tarde e a más horas, e por outro lado, consente no jogo de sombras que se perpetua na TAP. Referimo-nos ao tema por ser público e aberto, com a catadupa de imbróglios e dúvidas que se têm levantado e tornado escândalo nacional, a par das assembleias-gerais das nossas associações que, mais uma vez, com discrição e com tranquilidade provam que continuam a fazer mais e melhor que o próprio Estado.

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